sexta-feira, 19 de junho de 2009

Finalmente !!! João Pedro

Agora sim, está tudo pronto, a cortinas estão abertas, apesar de fazer algum tempo, afinal elas já estavam assim muito antes disso, se abriram numa tarde estranha de 1996, Setembro de 96, 9 meses depois de um ano-novo que marcou vidas, deixou o que falar, frutos daqueles dias sem amanhã, em que se vivem como se tudo fosse pro inferno. Coisa que puxa coisa, mas vai ficar para outro dia.
Faltava o essencial, e aqui está, saindo do shopping, agarrado a Rachel, que acabou com o namoro de seu melhor amigo, agora, senhoras e senhores, João Pedro! Finalmente!
João Pedro, de cabelos lisos e bagunçados, ligeiramente afoito, olhos azuis, esguios e desviados. "Que Boca Doce" esclamaria Rachel, esse doce de uma abelha que pousará em 1417 flores diferentes até onde se saberá. Pescoço liso, e frequentemente roxo, culpa dos chupões quase diários de Rachel, Ana, Fernanda, Ale, Natalie, Gabriela, Luiza, Rafaela, Vanessa, Bruna, e outras que não lembro dos nomes.
Ele já tem 12 anos, rebelde, desajustado, melhor dizer deslocado, está acima de vários tabus. Acaba de se despedir de Rachel, a número 378, que rápido, hoje é quinta, sabado ele tem uma festa, onde a Juli o espera.
Ainda sim, de tantas paixões, sem qualquer sentimento praticamente, ele acabou concentrou todo seu amor infantil num anjo. Anjo desses que é dificil ver por aí, sem curvas ou pecados, sorriso juvenil, e maduro ao mesmo tempo, seu porto seguro, amor platônico.
Enquanto isso, João estava a caminho de casa, embebido dessa maconha que por enquanto faz efeito algum, ainda faltam 1039 meninas, 17 namoros fracassados, 4 ou 5 transas, e um único beijo puro, esse sim, valeu a pena, tudo isso até os 14 anos. João Pedro é um Artaud moderno, ainda sem nunca ter ouvido falar em literatura.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Amor Coca-Cola

No meio do intervalo, resolveu falar com ela, foi ao seu encontro, entrou confiante na roda das amigas e beijou de beicinho sua boca, e em seguida, cumprimentou as amigas, foi quando ela disse:
-Vem cá, quero falar com você
Ele a seguiu até a cantina, pediu uma coca, dois canudos, pagou, e foi com ela a um lugar menos agitado. Ambos tomaram um pouco de seus canudinhos, ele a olhou, sentiu o doce, e perguntou:
- O que você queria falar comigo? - tom adocicado
- Sabe, faz tempo que a gente está junto – começou – você lembra do começo. A gente ficava na saída, depois no pátio, até em casa...
- É... - o doce estava acabando- E você veio com essa idéia de sair disso, criar intimidade, e me pediu em namoro.
- Te pedi com aliança e tudo – sentiu um gostinho, e sorriu
- No inicio, foi legal, como meus pais nunca te viram, e achavam que eu não tinha namorado, e a gente namorava escondido – gesticulava como se quisesse adverti-lo sobre o que veria – eu gostei, mas agora...
A partir desse ponto ela parou de mover os braços, era a calmaria da tempestade, ele já sentia o ácido, que descia lentamente de gole em gole. Achou ter ouvido um "terminar", foi mais ameno, "vamos dar um tempo...", e ela voltou a gesticular.
- Você não fica mais comigo – prosseguiu - me deixa com minhas amigas, não faz mais carinho, não tem afeto, nada, fico aqui, amargurando com histórias das minhas amigas, é estranho sabia, às vezes penso que você não me ama mais, nem sequer me beija daquele jeito mais, Fernando, no máximo me dá um selinho – explodiu como o gás da boca – eu namorava por causa da emoção de ficar, de sentir, de ser sentida, agora virei uma coisa! - "namorava"? Como assim namorava, ele se assustou com o fim, sentiu por dentro a mentira que era o tal "tempo" - ...e eu só não fiquei com outro, por que te considero, e achei que falando com você isso mudava, vai mudar não é?
Atônito, teve a coca furtada por sua namorada, ou ex, ou..., que se dane no que ela é. Ela tomou o resto da lata e foi-se.Ele estava explosivo, como isso, "uma coisa ?", ela era tudo, e agora a ingrata se ia com a lata amassada na mão, estava com o gás na ponta da língua, pronto para explodir. Tirou a aliança, pensou e arremassar longe, mas pensou, e a colocou no seu bolso, "agora ela me paga", lembrou-se da Rachel, que tava de olho nele faz tempo, pois é, "agora ela me paga".
Bateu o sinal, hora da vingança, foi para a classe, fez um bilhetinho para Rachel, disse que tinha terminado, e que queria falar com ela na saída, esperou, arquitetou tudo, estava claro em sua mente de como iria fazer. Recebeu um "SIM" como resposta, estava tudo armado.Saiu voando da sala, no final da aula, viu Rachel, que não disfarçava um assanhamento e receio:
- E sua namorada? - indagou
- Já era, terminei, já queria terminar com ela desde que vi você – ele sabia mentir como ninguém.
Nem precisou de resposta, a agarrou e a beijou com todo o fôlego, a bebeu e sentiu novamente o doce na boca. Nesse instante, se ela ainda não era sua ex, acabava de virar, ela o viu com aquela biscate da Rachel, satisfeita com um só beijo.
- O que é isso???
- Você queria que eu mudasse, eu mudei.
Não ouviu retalhação, estava feito, somente faltava um detalhe, abriu a mão dela, e deixou-lhe a aliança, e subiu com Rachel, no primeiro ônibus que apareceu, rumo ao terminal.No terminal passaram-se ônibus e mais ônibus "ela não tá brava?", indagou Rachel, "Que nada, ela sabe aceitar essas coisas", passou da hora, fechou com chave de ouro, de língua, e uma agarrada no bumbum, e subiu para casa, e só ouviu um suspiro de Rachel.
No ônibus, sentiu a vitória nas veias, o suave sabor doce, da coca e de gloss, sentou-se, e em minutos estaria em casa, queria ver só a cara, o que ele escrevera na internet, estava feito, que se dane, arranjava outra, quem sabe até a própria Rachel, tinha deixado sua marca.Olhou para trás e viu um casal de namorados, juntos sorrindo, sem beijinho, nem nada. O que era aquilo afinal? Sentiu algo novo, pela primeira vez pensou: "e depois?", será verdade o que ela tinha dito, não sabia expressar o que pensava, era um turbilhão de idéias, memórias e imaginação. Sentiu a boca amargar lentamente, sentiu uma sede que lhe secou os lábios. Desceu rápido e entrou em casa, bebeu mais de 1 litro de coca, não passava, o que era aquilo?
Sentou no sofá e ligou a TV, era dia 12, dia dos namorados , a TV não mentia, na pressa ligou o computador, que agitado se afogava nos próprios beijos. Entrou no ORKUT, 12 de Junho, o gosto piorou. Foi em seu álbum de fotos, momentos "ela e ele", olhou atentamente, sorriso e olhos , foi avançando no tempo, rezava que ela estivesse errada, com o passar do tempo as ficavam raras as fotos deles juntos, "tinha concerto?", foi quando percebeu o depoimento dela, "o amor meigo, sincero, guardado, escondido ", tentou se lembrar da última vez que se sentiu assim.
Não lembrou, e percebeu que não valia nada, Rachel, a coca, só queria tirar se livrar daquele gosto que colava na sua boca, estava feito, estava feito. Afinal, ele havia mudado, não é?

Feliz Dia dos Namorados,
João Pedro

sábado, 6 de junho de 2009

A Descoberta do Mundo

O nome era Felipe, tinha 12 anos, estudava numa boa escola qualquer da cidade. Tímido, fechado, de corpo pequeno, olhos gigantes e coração inexplorado e virgem. Classe média vai ao shopping, perder seu BV.
O nome dela não se sabe, nem importa se mistura ao ambiente como um camaleão. Ao lado de Felipe, o amigo incentiva conversa, dá boas dicas de como fazer.
A hora estava marcada, ali estava Felipe, o amigo, a menina falta. 19 horas na frente, era o combinado no MSN. De calça jeans grossa, em pleno Janeiro, Felipe suava, ficava vermelho, mas não pelo jeans, senão pelo iminente furo, já era 7 e 10, e o nervosismo aumenta, rosto cor de sangue. Os grandes olhos inquietos, ela se mistura bem...
7 e meia, acabou-se, só faltava essa. Felipe agitava a angustia, inconformado, o amigo consolava. Shopping no sábado a noite. Felipe não estava bem, queria ir, já dava o fora como dado, não era o primeiro, mal sabe que não será o último.
Mas finalmente lá estava ela. Estava melhor a foto do Orkut. Olhos menores, mas ainda enormes, cabelo moreno enloirado, batom e gloss em excesso, corpo de menina de 14 anos, uma perfeita devoradora de BVs.
Felipe continuava em vermelho vivo. O amigo despede-se, missão comprida, agora ao cinema. O filme é o de menos, lógico, cada qual com seu motivo, ela a negócio, ele a status, mas não só por isso. O cinema é perfeito como ficódromo, Felipe era novo e não sabia, ela, já perdera as contas, cada semana uma cara nova, um sentimento novo, isso que é a vida, “vivendo dia-a-dia, ficante a ficante”. E afinal o rito mais uma vez recomeça. Atrapalhado, sôfrego e trôpego, onde o medo é vencido pela novidade, a sede de quem quer agora, rápido, como quem compra um presente ou digita no computador.
Ele esta nervoso, queria fazer tudo certo. Tentou lembrar-se do que o amigo ensinou, mas nada, ele olha inquieto o filme, queria dizer algo, qualquer coisa, o que ia dizer se saísse daquela sala sem ter sentido o gosto de batom? Foi quando ela colocou sua mão por cima da de Felipe que, de súbito, ficou tenso, enrijeceu. Tinha que ser agora, qualquer coisa, o que vale é agora. Olhos nos olhos dela, disse que era linda, suava como nunca, apesar do frio que fazia com o ar condicionado. Ele ia emendar porem ela o interrompeu – Eu sei como é que é, na minha primeira vez tava super nervosa, mas então, quer ficar agora? – Felipe sabia, fez um sinal e se atirou aos lábios dela, como se sua vida dependesse de sentir aquilo, saíra do casulo, para ver o mundo pela primeira vez, seria algo a mais, sentiria algo a mais, a tensão era a mil, porem quando afinal ia ser a tensão explodiu. Uma mancha escorreu pelo jeans de Felipe seguido de um alivio...
Ela tentou conter-se, segurar o riso, o nojo e o inusitado disso, improvisou, “não se preocupa, já vi isso acontecer várias vezes...”. Ela sorriu, tentou evitar a zona de perigo, sorriu mais uma vez, deixou sua mão pousar naquele rosto incandescente de 12 anos castos, conteve o riso com um soluço, tomou o rosto (silencio) e prosseguiu “.. agora que você está mais relaxado, que tal você fechar os olhos, pra eu te dar uma surpresa ...”. Aqui morreu o Felipe que vocês ouviram falar.
O primeiro beijo de Felipe tinha vários gostos, gloss com novidade, um arrepio, do céu da boca até a ponta das vértebras, que durou um infinito. O cruzar das línguas, que se falam e secretam coisas entre elas, segredos dos beijos passados, para repassar a outras línguas, essas línguas que criam universos, para si próprias, e não se separavam, gosto de beijo e Halls.
Passaram algumas horas, e ao final do filme, eles insistiam, valia a pena, só voltaram pra esse mundo chato e sem gosto quando o lanterna berrou do fundo do sala, que ele arrumava para a próxima sessão. Pelo jeito, ela e Felipe aproveitaram. Saindo, ele virou-se para ela, que estava com o celular. Os fios dourados batiam naqueles bugalhos exagerados, os olhos, verdes claros daquela fada, que posava para ele, olhos belos que contavam histórias de amor e felicidade para Felipe, e este, ora por causa dos olhos, ora da ingenuidade de quem tem 12 absorvia cada sílaba. Ela era para ele, o sorriso dela já dizia tudo, aqueles peitos, a barriga, a cintura, coxas, meu Deus. E os lábios, que faziam carinho, amarravam e prenderam-no num paraíso, onde cordilheiras róseas abrem o caminho para dois mares da saliva finalmente encontrarem-se, mas não só isso. O para de esmeraldas pareciam falar, sussurrar umas palavras perigosas, uma frase violenta.
EU TE AMO, e durante todo o segundo, entre o olhar de Felipe e a resposta, com um sorriso simpático dela, foi o tempo preciso para ele ler nela o eu te amo. Ele se apaixonou, ela nem notou.
Passados mais alguns segundos, ela virou-se para ele, selou a noite com um selinho mais discreto, sorriu e disse:
- Você é bem legal Felipe, o BV mais legal que tirei de alguém...
Os olhos de Felipe brilharam, destilando amor (ou seria mesmo paixão) ele sorriu de volta, só faltou a resposta.
- Você é bem gatinho sabia, ela continuou, mas olha Fê, tá tarde, tenho que ir, beijo.E tão rápido como se despediu, ela já desapareceu como um bom camaleão faz. Os grandes olhos se perderam na multidão que se formava para a nova sessão, mas seu coração, que até hoje sonha e imagina aquele dia, não a perdeu e a guardou a sete chaves, para ele devorá-la quantas vezes sonhasse. Perdeu o BV e o coração.