domingo, 13 de junho de 2010

A solidão

Passaram meses depois, na morna rotina, que não se esfriava com a vinda de mais um inverno ...

Março, Abril, Maio, Junho. O silêncio perdurou por meses na cabeça de João, como se os ouvidos se recusassem a ouvir a rua, as pessoas, as coisas. Cansadas de querer saber de tudo. A orelha esquerda foi além, e num ato premeditado, deu um golpe de misericórdia. Se deixou pegar uma otite, e doia a cada leve bater de asas de uma borboleta por acaso perdida.

Já estava de cama a 3 dias. Pai e maninha já saíram e João mesclava televisão, videogame e dormir. Tudo sem sair da cama. Acordava subitamente, de dor, quando deixava a cabeça virar. O médico lhe havia recomendado antibióticos e repouso e João estava fraco, pálido. Os dias eram de nuvens e as tardes ventosas demoram eternidades. Não via luz, ficava ali, na penumbra da cama.

Gostava disso, colocava a TV no mudo e virava para dormir, se distraindo com as cores que moviam-se pela parede. Seu olhar compenetrado, agora relaxava, devido aos efeitos a medicação e se fechava delicadamente. Tentava sonhar, mas nada saia. E quando se deu por si já estava só por 3 dias. Tentava de forma imaginativa combater tal situação das mais variadas formas. O pouco contato que havia com as pessoas de verdade era com maninha, que lhe entregava a dispersa sopa de letrinhas, com que ele em vão, tentava montar palavras até a água ficar fria.

A dor era como um castigo, não o deixava curtir o silêncio. A pele pálida, e fria, quase morta, fazia duvidar a quem o pudesse ver de que se tratava de um ser que ainda estava vivo. Mas ele se fazia notar em sua mente, não podia sonhar, então imaginava mundos onde ele era o protagonista, ouvia as sineres andares abaixo, os ruidos irreconheciveis da cidade que sempre respira.

E um vulto surge, do nada, e se mantem rijo na janela, as luzes somem e o quarto se imerge em um silêncio absoluto. O homem que havia morrido a alguns meses lhe vem a cabeça, assim como o reflexo de si mesmo em seus olhos. Eles não se conheciam, mas estavam conectados, e foram felizes em algum momento, pois ambos sorriam. Ou seria uma ilusão? Do lado uma figura anaformica e irreconhecivel. Causava incomodo e dor no ouvido de João. Medo começou a cercar-lo e o deixar acuado, rendido.

Na madrugada, pai ouve os gritos aflitos que vinham do quarto de João, ele em instantes abria aporta e se perdera no escuro. Desesperado, tateava o nada em busca de algo para se situar. Encontra as mãos de João que o apertam, em seguida, sem ligar a luz, vê no reflexo da rua o rosto branco e suado de João, ele parecia ter uma insônia que durara dias. Confuso, perguntou o que havia acontecido a ele.

João, sem ouvir simplemeste repetia "É um borrão na luz, é um borrão na luz ..."

- Que, João, o que você está dizendo ??

pai recuou alguns passos até acender o interruptor, onde viu a magreza de João, que suado lhe respondeu: "Deus, deus é apenas um borrão na luz"...