sábado, 15 de janeiro de 2011

O pacto dos corações partidos.

Bom, eu pretendi quebrar a historia e colocar este pequeno rascunho, devido a uma inspiracao que me bateu esses dias, qualquer critica ou elogio deixe nos comentários.


Por dias seguidos se isolou da dor, do ruim la fora. Por isso deixava as cortinas fechadas e mal saia de casa a não ser para comprar o essencial para viver. Vivia e se tratava como um animal, para poder regredir as raízes mais simples de nosso ser. Para isso, executava com primordial perfeição a simplicidade das coisas. Fazia apenas o necessário e gastava a horas vagas admirando o teto do apartamento no centro. Os carros passavam em branco na sua mente que já era um branco em absoluto. O lugar vivia na penumbra, obscuro, carregado de poeira, sem fotos, sem vida. Se isolara do mundo exterior ao quebrar o computador num ataque de raiva e atirar ao lixo a televisão e o telefone. Esperava assim algum reconhecimento, alguma noção de que ao menos fazia falta ao mundo. E Jessica andava nua, exibindo sua quase nenhuma carne clara e fraca. Era uma menina sem gosto e sabor. Não possuía passado e descartava o futuro. Aquele apartamento apertado era seu invólucro, salvo da dor dos cacos de vidro, da pia suja, do peito arrombado. Era um coração que havia implodido e dado lugar ao animalesco e a solidão. Para ela, o mundo era lindo, um lugar romântico, onde os feios não tinham lugar. Qualquer feiura não era aceita, e ela se sentia feia e na obrigação de não amar. Pois para ela o amor sempre seria um sucessão de frustrações e decepções sem fim. Os feios não sabiam, logo não mereciam amar. Feios não de forma física, mas feios por dentro, secos, mortos vivos. A apatia lhe dominara assim como a anemia. Evitava ao máximo sair do quarto, assim evitaria a humilhação de ir só ao mercado, enquanto as outras moças, fartas de peitos e cores sorriam, com seus pares. Esfregando em seus opacos olhos que ela não merecia isso, que a felicidade teria que ser com outra coisa. Pois a beleza de seu espírito era ímpar, por que qualquer espelho se recusava a lhe mostrar o reflexo.